domingo, 29 de junho de 2014

Karate universal

Ryu, personagem do jogo Street Fighter,
em kokutsu-dachi a fazer soto-uke.
   Com mais de 16000 praticantes registados, fora os milhares que não o estão, o karate é das modalidades desportivas mais praticadas em Portugal. Isto explica-se pela proximidade que existe entre Portugal e o Japão. Ambos são povos de navegadores localizados nos extremos da Eurásia que sempre tiveram grandes potências como vizinhos. Se o Japão é o país do sol nascente, Portugal é o país do sol poente.

   Foi Portugal que introduziu o mundo ao Japão e o Japão ao mundo, e desde esse dia que a ligação entre as duas nações é forte. Podemos não falar a mesma língua mas temos muitas palavras em comum, e quando nos juntamos, sente-se uma certa cumplicidade.
   
   Mas esta atracção pelo karate não está limitada a Portugal e isso pode ver-se na cultura dos outros países. Não apenas no cinema, com o Karate Kid e todos os outros filmes de artes marciais, mas também nos jogos e outras formas de arte.

   Talvez esteja errado mas acredito que se pedisse a um português sem internet nem televisão para dizer o nome de uma arte marcial, ele provavelmente diria Karate.


sábado, 28 de junho de 2014

Yin-Yang

   Antes de mais, quero deixar bem claro que não sou um entendido na matéria e que tenho consciência que o assunto é extremamente complexo.
 
   Dito isto, é evidente a presença de forças contrárias e complementares em tudo nas nossas vidas, até mesmo no Karate. Todos os movimentos que fazemos têm presente o seu oposto, ainda que em pouca quantidade. Visualizem um soco rápido e forte. O corpo estremece e perde o equilíbrio se não recuarmos a outra mão ao mesmo tempo. No fundo, é como o próprio símbolo: um mar branco (soco) com uma gotinha negra (recuar a outra mão). Isto é equilíbrio, a tal acção e reacção, e ele está presente em tudo. Durante o taiso, quando rodamos os braços, não rodamos sempre para o mesmo lado. Rodamos duas voltas para a frente e duas voltas para trás. Uma das voltas tem energia Yin e arrefece o corpo, a outra tem energia Yang e aquece o corpo. Não acreditam? Então experimentem rodar sempre para o mesmo lado.

   A dualidade Yin-Yang está presente em tudo, até em nós próprios. Um karateka com excesso de energia Yang é demasiado agressivo, brusco, pesado. Um com excesso de energia Yin é demasiado delicado, elegante, esvoaçante. Nenhum destes excessos é bom, nem para eles nem para elas, por isso devemos procurar o nosso próprio equilíbrio, a tal gotinha no meio do mar.



sexta-feira, 27 de junho de 2014

Água mole em pedra dura...

   Quem julga que a rocha é mais forte que a água é porque nunca viu o poder do mar. Fluidez e flexibilidade são qualidades de tudo o que está vivo. Dureza e inflexibilidade caracterizam o corpo morto. Preferem ser o rebento verde ou o ramo seco? Um cresce, aprende, propaga-se; o outro parte-se, cai e desaparece. Mas se assim é, então porque é que o karate hoje em dia é visto como uma sequência vazia de movimentos tão brutos que fazem com que o karateka se transforme numa máquina?


   Todas as técnicas deviam ser fluídas, como a onda que se esmaga contra a parede rochosa e adapta-se e envolve-a e recua para atacar uma vez mais. Da mesma forma que a onda não pára bruscamente, também nós não o deveríamos fazer porque somos mais parecidos com ela do que pensamos.



 Se procurarmos bem, descobriremos que somos fluidos, líquidos até. E se não acreditarem, recordem a percentagem de água que temos no corpo e vejam uns quantos vídeos em câmara lenta de alguém a levar um soco na cara.
   A dureza é ilusória. A verdadeira força esconde-se por trás de um estado mental adaptável, fluido e flexível.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Hikite

   No Shotokai, hikite é o nome dado à preparação que precede todas as defesas. Na minha opinião, há uma filosofia muito nobre por trás deste movimento. Fazer hikite antes de defender é oferecer a oportunidade ao nosso oponente de parar o ataque porque nós, genuinamente, não o queremos magoar. É como se alguém nos atacasse e em vez de desembainharmos a espada para o matarmos ali mesmo, apontássemos a espada à sua garganta enquanto o olhamos com compaixão e lhe disséssemos: amigo, pára agora se não vais morrer.

   O hikite é ainda mais necessário durante as viragens, quando acabámos de executar um ataque contra alguém e vamos virar-nos para trás das costas. Sem hikite, o que aconteceria é que faríamos um ataque às cegas que podia atingir de igual forma um atacante ou uma criança que estivesse de passagem.

   Hikite está directamente ligado ao segundo princípio que Gishin Funakoshi escreveu, a famosíssima frase "karate ni sente nashi" que significa "não existe primeiro ataque no karate". Se for bem feito, o hikite deverá ser suficiente para travar o confronto antes mesmo de ele começar.




terça-feira, 17 de junho de 2014

A importância do caminho

   Ecoa sanbon dentro do dojo; temos que fazer o mesmo ataque três vezes seguidas. O primeiro sai bem, forte e preciso; o terceiro vai longe, acompanhado de kiai; mas e o segundo? Bem, o segundo nem se deu por ele, de tão apressado que foi.

   Dizem que há dois tipos de pessoas mas neste caso há três:
  • Aqueles que apostam tudo no primeiro ataque mas depois vão morrendo aos poucos. São aquelas pessoas mais impulsivas que nunca estão bem no mesmo lugar e só querem começar coisas novas e fazer tudo ao mesmo tempo.
  • Os que só dão o máximo no último ataque porque têm uma inércia dos diabos mas quando vão lançados e focados no objectivo não há quem os agarre.
  • Aqueles poucos que conseguem viver no presente e por isso executam cada movimento como se fosse o último e terminam-no correctamente. São esses que vão crescendo sempre, não porque já vão lançados mas porque querem realmente dar o seu melhor em cada ataque.
   No fundo o mais importante não é começar, por mais difícil que isso seja; nem sequer alcançar o objectivo, aquele que ocupou a nossa atenção durante tanto tempo; mas antes não perder o caminho porque fomos impulsivos e quisemos recomeçar um caminho novo. Simplificando, devemos focar-nos no presente e honrar cada técnica com início, meio e fim.

Foguete com três estágios, cada um com início, meio e fim.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Karma

Ajudar alguém é ajudar-nos a nós próprios.
Magoar alguém é magoar-nos a nós próprios.
   Estamos todos ligados e aquilo que fazemos, pensamos e sentimos espalha-se e propaga-se pelo mundo inteiro. E isto é ainda mais verdade dentro de uma turma pequena. Se estamos a atravessar uma fase difícil, com demasiado trabalho e pouco tempo, com problemas familiares ou doenças paralisantes, com medos antigos e outras inseguranças, temos que ter força interior e responder com altruísmo em vez de despejar em cima dos outros tudo aquilo que nos atormenta. Se fizermos isso, só estaremos a multiplicar o nosso problema e a dar-lhe força para nos esmagar no futuro. Este é um dos conceitos de karma e basta prestar-lhe um pouco de atenção para vermos que estar bem com os outros é a melhor forma de estarmos bem connosco.


sábado, 14 de junho de 2014

Percorrer o caminho sozinho

   No outro dia foi-nos transmitido o que deveríamos fazer para treinarmos sozinhos caso não pudéssemos vir ao dojo. Cinco minutos e um espaço não maior que aquele que ocupamos quando estamos de pé bastavam. Toda a ideia deixou-me com lágrimas nos olhos. Não sei o que é viver assim. Estar tão preso a uma rotina e tão confinado a um espaço que não é possível sequer deitar-me no chão, e mesmo assim sentir a necessidade e encontrar a força interior para treinar sozinho.
   Basicamente teríamos que construir um dojo dentro daquele espaço minúsculo, ou seja, deveríamos limpá-lo, acender uma velinha e saudá-la como se fosse o nosso mestre que estava ali connosco. Deveríamos fazer o aquecimento o melhor que pudéssemos e seguir para um par de exercícios rápidos.
   A solidão e a falta de liberdade são assuntos que me tocam fundo. Não ter forma de treinar e não ter alguém que me ajude e guie é realmente entristecedor. Espero nunca ter que passar por isso mas se algum dia acontecer, só espero ter força para perceber que não estou sozinho, e que o meu mestre continua comigo.


terça-feira, 10 de junho de 2014

Posições dentro do dojo


   Existem três títulos que usamos dentro do dojo:
  • 先生 lê-se sensei e significa aquele que nasceu primeiro. No dojo é usado para designar o mestre ou a pessoa que está a dar a aula.
  • 先輩 lê-se senpai e quer dizer que a pessoa a quem nos referimos é mais velha que nós, ou que começou a treinar primeiro. Durante a saudação, é ele que fica do lado direito e tem como dever auxiliar o sensei e ajudar os restantes alunos, especialmente o mais novo.
  • 後輩 lê-se kouhai e quer dizer que a pessoa a quem nos referimos é mais nova que nós ou começou a treinar mais tarde. Durante a saudação é ele que fica do lado esquerdo.

   Durante a saudação, o sensei deverá ocupar uma posição segura, longe da porta e das janelas, e os alunos deverão formar uma linha à sua frente que ocupe o dojo inteiro. A posição mais à direita dessa linha é ocupada pelo senpai e é considerada uma posição de honra pelo que estar demasiado à direita pode ser interpretado como sinal de arrogância. Da mesma forma, o kouhai, ou aluno mais novo, deve ocupar a posição mais à esquerda possível para demonstrar humildade. Todos os alunos devem ainda alinhar o mais atrás possível mas de forma a que ainda seja possível alguém passar por trás.

Alunos sentados em seiza


segunda-feira, 9 de junho de 2014

Propagar uma ideia

   O dicionário define propaganda como o conjunto de actos que têm por fim propagar uma ideia, opinião ou doutrina. E é justamente isso que tentámos fazer nos últimos dias.

   Era dia de feira em Almada e estávamos na nossa banca a vê-los passar. Muitos continuavam sempre, de olhos no chão. Outros olhavam e comentavam, envergonhados. Poucos eram aqueles que paravam e ficavam a olhar. Raríssimos ainda os que vinham mesmo ter connosco. E são estes dois grupos que mais me interessam. Para alguém parar o que está a fazer nos dias que correm é preciso muito. Se alguém pára em frente à nossa banca é porque há algo na sua alma que vibra com o que está a ver, como se estivesse a sussurrar-lhe ao ouvido que aquilo ali, talvez, fosse boa ideia ver mais de perto. Mas existe também o medo, a vergonha, imensas outras forças convencendo-a que é só impressão, que não existe nada de especial, que é melhor continuar a caminhar com os olhos postos no chão. É a essas pessoas que eu lançava o meu olhar como uma corda em laço e levantava-me imediatamente antes que se fossem embora. Armado com panfletos, começava com a mesma conversa ensaiada, mas sempre atento à reacção que estava a causar do outro lado. Tal como no kumite onde é essencial criar-se uma forte união, também ali era obrigatório largar ou agarrar com mais força consoante a pessoa. Felizmente que aquilo que estava a vender era um produto no qual acredito e que conta já com imensos bons exemplos testados ao longo dos anos.

  "Ah, eu não tenho idade para isso." Então fique sabendo que temos um praticante com mais de oitenta anos e que há pouco entrou alguém com cinquenta.
  "Ah, eu não gosto disso da violência." Calha bem porque nós também não. O Shotokai é contra a competição.
  "A minha filha já andou mas agora prefere natação." Pois, e a senhora não quer vir experimentar? E os seus pais? E os seus netos? Não se esqueçam que oferecemos um mês de aulas grátis.
   - Para todo o ataque, um contra-ataque. -

   No final conhecemos imensas pessoas que, quem sabe, poderão visitar-nos um dia destes e transformarem-se elas próprias nos propagadores de amanhã.


     

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Equilibrar os níveis

   Quando fazemos kumite com alguém menos graduado, é nosso dever ajudá-lo. Claro que isto não significa que devamos desviar a mão para não o atingir, ou descuidar a defesa para que seja ele a atingir-nos. Mas ajudar também não pode ser atacar com força excessiva porque isso só destruiria o corpo e a vontade de continuar a treinar.
   O ideal seria atacar verdadeiramente, de queixo erguido, controlando a força no último instante para que toda a nossa intenção (e não a nossa força) o atinja, e ele sinta que o ataque foi justo e verdadeiro. Mas até aqui parece existir uma certa subtileza. Se um cinto preto fizer exactamente isto; dar o seu máximo na intenção e no controlo, o resultado não será tão útil para o cinto branco como seria se ele tivesse baixado o seu nível de forma a estar apenas ligeiramente acima e assim conseguir apresentar um bom desafio.


   No fundo é como se estivéssemos a pedir ao praticante mais novo para subir para as nossas costas. Se não nos baixarmos nem um pouco, é normal que ele desista e se vá embora, porém, se nos deitarmos no chão para ser fácil subir, isso não servirá de nada porque ele não conseguirá ver muito mais além. Temos de olhar para ele e perceber qual é o seu nível a fim de nos colocarmos apenas ligeiramente acima dele, incentivando-o para não desistir.

   E seguindo esta ideia, deixo aqui uma história real que a ilustra na perfeição:

   Há uns anos atrás chegou a França uma comitiva japonesa composta pelos melhores praticantes de Kendo do Japão, e o seu objectivo era avaliar o nível dos praticantes franceses. Entre os praticantes japoneses havia um rapaz de dezasseis anos que foi, naturalmente, colocado a treinar com as crianças enquanto os praticantes mais velhos se defrontavam. Ele a principio parecia que estava com dificuldades mas no final de cada confronto arranjava sempre forma de vencer. E quando as crianças foram descansar, ele foi treinar com os jovens da mesma idade, e aí a história repetiu-se. Quando ele parecia que estava quase a perder, conseguia sempre dar a volta e vencer no final. E quando os jovens foram descansar, ele foi treinar com os adultos. Nessa altura já os franceses começavam a perceber que alguma coisa não batia certo porque ele conseguia ganhar sempre. Ora, no final o rapaz foi desafiado pelo próprio campeão francês. O combate foi renhido, mas sempre que o campeão parecia que ia vencê-lo, o rapaz conseguia fazer algo para lhe dar a volta, até que no final acabou com um empate. Os dois praticantes saudaram-se e nesse instante aconteceu o inesperado: a máscara do campeão caiu ao chão, coisa que é impossível de acontecer porque elas estão firmemente presas com vários nós. Resultado: o miúdo andou a brincar com ele e a desatar-lhe a máscara durante o combate e só não venceu por uma questão de respeito já que isso seria humilhante para o campeão.

www.kendoleiria.com

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Largar, confiar e avançar

   Hoje parecia que ia ser um dia normal.
   O sol brilhava e os pássaros cantavam. Cumprimentámo-nos e caminhámos até à porta do dojo. Até aqui tudo bem. Mas no instante em que o sensei se vira para trás e pergunta onde está a chave, os ventos começaram a mudar.
   "Como assim onde está a chave? Sem chave não podemos entrar. E agora? Onde terá ficado a chave? Quem a terá levado?"
   Podíamos ter desperdiçado a manhã inteira ali, mas felizmente que a intuição do mestre falou mais alto e ele disse que não havia problema, que estávamos cheios de sorte, e que  íamos fazer a aula no terreno ao lado do dojo.


   Ora, o terreno ao lado do dojo é onde temos a nossa horta biológica, um sítio irregular decorado com pedras, urtigas, paus, e todo o tipo de ervas pontiagudas. Claro que estávamos reticentes no instante em que tirámos as meias e escusado será dizer que ficámos ainda mais quando pisámos a terra e sentimos uma miríade de sensações boas e más. Erva molhada, pedras duras, terra fofa, dedos a enterrarem-se, canas secas. A primeira reacção foi olhar para o chão, ver onde era seguro pisar, ninguém se queria magoar, e até aí tudo bem. O problema surgiu quando o medo não nos deixava caminhar naturalmente. É aí que a razão tem que tomar conta. Tens medo? É normal, mas agora anda, e anda bem, não com medo, porque se tiveres medo e levantares o pé, quando o baixares o mais provável é espetares-te em alguma coisa. Anda naturalmente como sempre andaste sobre o chão de madeira do dojo, porque assim nada te acontecerá - foram estas as palavras do mestre. Se nos focamos no problema, no medo, ou em qualquer outra coisa negativa, só estamos a aproximar-nos mais dele.

   Um dos princípios fundamentais do Karate diz que devemos manter a cabeça ligada ao Céu e os pés bem assentes na Terra. Dentro das quatro paredes do dojo fazemos isto frequentemente, mas a verdade é que o que os olhos vêem continua a ser um chão de madeira e um tecto de canas. Já no terreno, tudo se torna mais fácil. Olhamos para cima e vemos o azul infinito, o sol quente, as nuvens a flutuar, as andorinhas a deslizar; olhamos para baixo e vemos o que sentimos: terra fofa, canas secas, ervas molhadas. Fazer a ligação entre o céu e a terra nunca foi tão fácil. E o que a princípio parecia apenas mais um dia de azar, perder a chave e ter que sujar os pés, acabou por ser transformado por todos nós numa imensa oportunidade para crescer e aprender; numa oportunidade para descobrir medos e enfrentá-los.
   Pergunto-me, quantas coisas na nossa vida não beneficiariam desta forma de pensar? No fundo basta-nos largar, confiar e avançar.

http://www.writerscafe.org/writing/nerdypenguin2427/893189/

      

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Encontro Nacional de Karate Infantil

   Existe um provérbio antigo que diz que é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança. É por isso que não as podemos fechar em casa e esperar que cresçam em frente à televisão. Temos que apresentá-las a outras crianças, mais novas e mais velhas, a adolescentes, que lhes dêem bons exemplos, a adultos, que as possam guiar; temos que apresentá-las aos animais, aos elementos, à natureza. E foi isso que tentámos fazer no passado 1 de Junho, Dia Mundial da Criança.


   O Encontro Nacional de Karate Infantil decorreu no Parque da Paz, em Almada e, tanto quanto pude ver, foi um grande sucesso.

   Seguindo o formato tradicional, passámos pelo taiso, kihon, kumite e kata, mas sempre com brincadeiras pelo meio.


   Mais que uma aula de karate, o encontro possibilitou que jovens praticantes que normalmente treinam em dojos diferentes se conhecessem e criassem ligações que, quem sabe, venham a durar muitos, muitos anos.